Há quase três anos decidi morar em minha propriedade rural. E aqui moram comigo oito famílias, sem considerar as existentes nos arredores. Em duas famílias, temos crianças de idades que variam entre 2 a 12 anos. Temos dois pequeninos, Carlos de 2 anos, e Manoel de 4 anos, nomes fictícios.
Diariamente, escuto os gritos das mães: “Carlos não faça isso, senão vai apanhar!”, “Manoel se subir aí você vai apanhar, seu descarado!”. E o choro desses filhos homens é uma constante.
De onde estou, fico angustiada com esses choros e a refletir como agirão no futuro Carlos e Manoel com as mulheres com as quais se relacionarem, tendo como referencia mulheres tão agressivas, e mesmo aqueles filhos que presenciam os pais baterem nas suas mães.
O primeiro pode se “vingar” e descontar em suas companheiras todas as agressões que sofreram, penso eu. E o segund, também podem agredir as suas companheiras, pois aprendeu que mulher deve ser maltratada. Engulo seco só de pensar que esse deva ser o padrão das mulheres, principalmente na zona rural, que possuem muitos filhos como é o caso da mãe de Manoel, cujas crenças e padrões de comportamento agressivo na criação dos filhos se fixaram por várias gerações.
Enquanto cuido do machucado de Carlos aproveito para conversar com a sua mãe, que teve o seu primeiro filho aos dezoito anos. Todos os dias Cristina sai de casa, com o ônibus que vai pegar os estudantes às 18h, enfrenta 10 Km de estrada de barro péssima para chegar a cidade que fica distante da rodovia 15 Km. Quando tudo flui normalmente, retorna às 22h30, e quando não, perto da meia noite, para no dia seguinte começar tudo de novo.
Conta-me que esse ano não sabe se vai estudar, pois seu marido não quer. Durante a nossa conversa busco orientá-la principalmente com relação ao filho, de forma a deixá-lo brincar mais à vontade, sob os seus olhos observadores, para que possa desenvolver a sua interdependência sem agressões. Ela escuta e concorda comigo. Fico feliz.
No outro dia pela manhã bem cedo escuto Cristina gritar: “Carlos seu moleque, se botar na boca vou quebrar seus dentes!” Eu suspiro e de cá grito: “O que, Cristina?” E ela silencia.
De novo me pergunto, será que Cristina apanhou muito do pai e agora desconta na figura masculina do filho? Quando de fato poderemos ter homens que respeitem as mulheres e vice e versa?
Quando será que as nossas crianças, independente de serem homens ou mulheres poderão chorar e expressar os seus sentimentos sem preconceitos? Sem medo de serem tolhidas?
Quando será que todos nós vamos nos responsabilizar pela educação do nosso país? E exigir respeito independente de sermos um homem ou uma mulher?
Quando será que nós, filhos da pátria, teremos uma Mãe gentil, que traga ordem e progresso para o Brasil?
Eulina Menezes Lavigne é mãe de três filhos, escritora, poetisa, administradora, empreendedora social, agricultora orgânica, terapeuta clínica, consteladora familiar há 16 anos, trabalha com trauma utilizando a técnica, naturalista e psicobiológica, SE – Experiência Somática.
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