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A nossa permanente impermanência.

Desde o início do ano estou lidando com a minha impermanência diante de fatos que geram mortes coletivas e individuais. Morte de pessoas que serão sempre, para mim, referência de amor, de sabedoria, de aprendizados inesquecíveis.

E sempre que a morte se revela para mim de forma tão abrupta, lembro o quanto a minha e a nossa vida é efêmera, principalmente para aqueles que acreditam que a vida se encerra quando o nosso corpo físico sucumbe.
Lembro o quanto preciso olhar para a minha vida e fazer ela valiosa.

A grande maioria das tradições espirituais do mundo, inclusive o Cristianismo, reconhece a continuidade da vida após a morte. Acontece que fui ensinada a negar, rejeitar a morte e a acreditar que ela é o fim de tudo. Fui ensinada a ter medo da morte como se ela fosse um bicho papão que devemos mantê-lo à distância. E, sendo assim, eu corria alucinadamente para usufruir de todas as coisas materiais, a ter o melhor carro, o melhor apartamento, a melhor bolsa e assim fui me distanciando de mim.

Sogyal Rinpoche no Livro tibetano do viver e do morrer, concluiu que os efeitos desastrosos da negação da morte vão muito além da esfera individual: eles afetam o planeta inteiro. Pois esta falta de visão a longo prazo está levando as pessoas a devastarem o nosso planeta e a destruírem os nossos recursos naturais como não se houvesse o amanhã.

Mesmo que acreditem que a morte é o fim de tudo, ao menos devem pensar nas gerações que permanecem e são continuidade da nossa linhagem.

Existem aqueles que acreditam ser a morte algo natural e outros que pensam que devem correr léguas dela. E os tibetanos nos convidam a observar sobre o verdadeiro significado da morte. A morte nos convida a ficarmos frente a frente conosco. E no fundo temos medo disto. Temos medo de quando a morte se aproximar não sabermos responder à pergunta: quem sou eu? O que mesmo fiz com a minha vida?

E este medo apavorante da morte, que no fundo é o medo de nós, de descobrirmos quem somos e o que fizemos com isto é que causa este distanciamento.

Passei então a refletir sobre isto e há muito tempo ando nesta busca de mim e confesso que ainda tenho medo da morte, embora seja muito menos. Ainda tenho um caminho longo a percorrer comigo.

Michel de Montaigne, filósofo, escritor e humanista francês, nos convida a tirar da morte o seu grande trunfo sobre nós e acostumarmo-nos a ela, tendo ela sempre em mente. Ele diz: não sabemos onde a morte nos espera, então vamos por ela esperar em toda parte. Praticar a morte é praticar a liberdade. Um homem que aprendeu como morrer desaprendeu a ser escravo.

E como aprender a morrer? Penso que morrendo. Morrendo um pouco a cada dia. Me desapegando daquilo que não me preenche e daquilo que me faz aparentar. Aparentar que sou rica se eu não sou, aparentar que sou feliz se eu não sou, aparentar que sei o que não sei e aparentar ser o que acham que sou. E não sou! Deixar viver o ser que eu sou do jeito que sou, quem sabe, me fará mais feliz.

Deixar morrer um pensamento, uma ideia que não mais me serve, deixar ir alguém que não me faz bem é, também, o exercício do morrer. E assim vou me desapegando ao ponto de ser feliz comigo para assim ser com os outros.

Para mim, a nossa missão na Terra é de sermos escultores. Eu escultora de mim. E a vida vai me dizendo para que pedaço de mim preciso olhar para integrar sob uma nova forma. E assim me torno um ser humano mais humano e, quem sabe, quando a morte chegar estarei plena ou aceitando ela melhor. Assim espero.

Não sei quando a morte chegará. Penso que desconfiamos, de forma inconsciente e, da mesma forma nos despedimos dos mais próximos a nós. Um dia ela vem.

Aprendi com Bert Hellinger por meio das Constelações Familiares que quanto mais corremos da morte mais ela corre atrás de nós. E um dia nos alcança e diz: vim te buscar. E já que isto é uma verdade devemos sempre olhar para a morte e dizer: eu te vejo. E quando ela vier nos buscar podemos pedir mais uma chance. Se ela achar que é possível nos dará.

Então, aproveitamos para fazer aquilo que precisávamos fazer e ainda não tínhamos feito, com a certeza de que ela voltará para nos buscar.

Que assim seja e assim é!

Eulina Menezes Lavigne é mãe de três filhos, escritora, poetisa, administradora, empreendedora social, agricultora orgânica, terapeuta clínica, consteladora familiar há 16 anos, trabalha com trauma utilizando a técnica, naturalista e psicobiológica, SE – Experiência Somática.

Para entrar em contato clique no link:

http://bit.ly/WhatsEulina

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