
Nessa vida, as primeiras pessoas que encontramos são os nossos pais. São as nossas referências mais concretas. Mesmo aqueles que não tiveram a oportunidade de conhece-los, e me refiro às pessoas que sentiram a dor de perder sua mãe, durante o seu próprio parto, ou o seu pai quando estavam sendo gerados.
Eles são os nossos referenciais e essas referências se potencializam com as daqueles que fizeram parte do nosso processo evolutivo, principalmente durante a infância.
A partir da convivência com os nossos pais, por meio de histórias que nos contam sobre eles, ou por aqueles que nos criaram, buscamos algo que nos estruture e nos oriente para seguir um caminho. Isso nos dá conforto, segurança, e assim nós seremos aceitos e pertencentes a uma comunidade.
À medida que vamos seguindo o caminho dessas pessoas, muitas vezes, nos identificamos com esse caminho e outras vezes não. Pois, ao longo da caminhada vamos crescendo, observando e experimentando novas vivências que contribuem para alterarmos crenças consideradas como absolutamente verdadeiras.
E por um longo período das nossas vidas, e muitos até o findar da vida, acreditamos que esta identificação com os nossos pais e/ou aqueles que nos criaram é eterna.
E observo uma tendência natural das pessoas em justificarem as suas ações e formas de pensar como uma herança fatal: “eu sou assim, porque meus pais eram assim, porque a pessoa por quem fui criada era assim”. “Agora eu entendo porque ajo assim. Porque meus pais ou quem me criou, agiam assim também.”
Acho muito importante esse entendimento e digo sempre que a palavra porque, existe para justificar e nos prender em algum lugar do passado. Gosto muito da palavra para quê, pois nos leva a uma reflexão e uma mudança de atitude.
Quando justificamos a nossa forma de pensar, de ser e de agir em função das ações de outras pessoas, principalmente dos nossos pais, apontamos o dedos para eles sem pensar nas experiências dolorosas pelas quais passaram ao longo das suas vidas, depositamos neles a responsabilidade por alterar algo em nós que só nós somos capazes de fazer e os excluímos, gerando vários níveis de desordem.
E, somos capazes de alterar isso, quando percebemos que o caminho que eles escolheram como marido e mulher e que se tornaram pais em algum momento ou não, não é o melhor caminho para nós.
Quando podemos olhar para esse caminho, somos capazes de honrar a sua importância em nossa vida e ter autonomia para escolher um outro caminho.
Seremos capazes de alterar esse caminho, quando tivermos claro na nossa família qual é o nosso papel: Sou marido ou mulher? Sou pai ou mãe? Ou sou filha ou filho? Parece uma coisa simples, e no entanto muito significativa e complexa. Pois, os emaranhados acontecem por conta desta falta de clareza.
Uma mulher que se coloca no papel de mãe do marido ou o marido que se coloca no lugar de pai da mulher, vai deixar o seu lugar vago para uma outra pessoa assumir. Uma filha ou filho que assume o lugar de pai ou mãe dos seus pais, vai excluir um dos dois, pode se perder no caminho buscando entender quem é quem.
Se desejamos evoluir e transformar algo, é importante em cada momento das nossas vidas termos a clareza de que papel assumimos, principalmente em nossa família. Para que ela cresça saudável e a nossa vida flua.
É natural que até os três anos de idade uma criança se identifique com os pais e a partir disso ela inicie o processo de construção da sua auto-imagem, e que, em sua grande maioria, é uma auto-imagem idealizada em função da necessidade de ser amada e aceita pela família.
Em nossa fase adulta é importante acolhermos a nossa criança, que deseja permanecer criança, e falarmos para ela que crescemos. Que somos adultos e somos livres para escolher o nosso caminho e assumir a nossa responsabilidade pelas escolhas feitas.
É importante compreendermos que os nossos pais fizeram as escolhas deles, respeitá-las e seguir honrando-os sempre por nos conceberem a possibilidade de estarmos vivos e fazermos diferente.
Precisamos aprender que pai é pai, mãe é mãe e EU SOU EU!
Eulina Menezes Lavigne é mãe de três filhos, escritora, poetisa, administradora, empreendedora social, terapeuta clínica, consteladora familiar há 18 anos, trabalha com trauma, há 10 anos utilizando a técnica, naturalista e psicobiológica, SE – Experiência Somática.