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Meus Deus, quem é você?

Meu Deus , quem é você?

Hoje quero compartilhar com vocês um poema pouco conhecido do nosso querido Pierre Weil, educador e psicólogo francês, fundador da Universidade da Paz em Brasília.

Meu Deus, quem é você?

As duas questões essenciais.

Meu Deus, mas afinal de contas quem é você? Eu, me fala eu te suplico. Quem sou eu?

Na verdade a resposta a estas duas perguntas se encontra em ti mesmo. Elas não podem se expressar em palavras. Trata-se de uma experiência vivida por ninguém. Somente tu a podes encontrar.

Se tu encontras quem tu és, tu saberás quem eu sou. Uma maravilhosa surpresa te encontra no final desta busca. Uma busca onde não há nada a procurar, pois tudo está aí mais perto do que a ponta do teu nariz, mais íntimo do que o mais íntimo dos teus pensamentos.

Que as palavras que seguem catalisem a resposta sem palavras em ti mesmo. A resposta do sem nome. Não sou nada de tudo que tu pensa que sou. Nem alguém, nem ninguém, nem algo, nem nada. Sou muito mais do que tudo isto e ao mesmo tempo eu sou tudo isso.

Enquanto tu me pensas eu não sou. Quando tu paras de me pensar então eu sou e então tu não é mais. Eu penso logo eu não sou. Eis o teu novo postulado. Então, tu não podes mais ser o que tu jamais  fostes, Tu. Pois tu sou eu, relativo e absoluto. Eu transcendo todos os teus conceitos. Eu te falo sem palavras quando estamos em uníssono, tu e eu. Mas, nos nossos tempos tão perturbados este uníssono é tão raro que eu preciso usar da tua linguagem: eu sou, tu és, tu eu. Então ouça os nomes dos sem nomes. Eu não tenho nome. Pois todo nome me limita. No entanto, são infinitos os nomes que me deram. Sou Brahma, sou Alah, sou Buda, sou Cristo, com ou sem barba sou o Pai. Sou o logos, sou o verbo, sou Alfa e Ômega, o começo sem início e o fim sem o término. Sou Javéh o único e no entanto como pai sou o mundo absoluto da unidade. Como filho, sou o mundo relativo da pluralidade das formas da matéria. Como Espirito Santo, sou a energia matriz como a minha própria transformação incessante do todo e tudo e de tudo do todo. Sou sempre Brahman e no entanto quando emano de mim mesmo sou Brahman, quando quero me manter tal qual sou Vishnan, quando me dissolvo em mim mesmo sou Shiva. Sou Satchitananda, Ser, Consciência, Felicidade. Sou o campo unificado de Buda. Como tol, sou não dual. E no entanto, sou Dharmakaya o corpo absoluto. Sou Sambhogakaya o corpo glorioso, sou Nirmanakaya o corpo de aparição. Sou o tao. O único e no entanto sou Yin e Yang. Receptivo e ativo.

Sou o eterno o que é. Do meu sopro inspirei Abraão, Krishna, Brahma, Jacó, Moisés, David, Salomão, Gautama, Elias, Padmasambhava, Ananda, Maim, Mohamed, Sri Aurobindo, Hari Krishna, Tereza D´ávila, João da Cruz, Krishnamurti, São Francisco e muitos outros ainda. Sou Deus.

Sou o Ser. Sou. Sou. Sou

Na realidade tudo é vazio de eu e de mim. E no entanto, cosmos de todos os Universos sou o autor, sou o ator, sou o papel, sou a peça, sou a cena, sou o expectador. Sou entrada, sou o caminho, sou o retorno. Sou a consciência e a sabedoria do Universo. Sou o Universo da consciência e da sabedoria.

Sou a vida que me oferece a eternidade. Sou a morte que transforma a minha vida. Sou a permanência da eterna mudança.

Sou o silencio de onde emana o som do verbo. Sou o som vibrando no meu próprio silencio. Sou a ciência que destrona a ignorância. Sou a ignorância ávida por ciência. Sou sujeito, sou objeto, sou espaço entre os dois.

Em pouco tempo eu me dissolvo do eterno, embora eterno eu aproveito do tempo.

Embora finito, sou sempre infinito. Embora infinito eu gozo do finito pois, sou transfinito. Imóvel não paro de me mover na incessante fantasmagoria dos meus fenômenos.

Sou ponto, sou forma, sou sem forma. Sou zero, som um, sou a passagem de um ao outro. Sou o Todo que tudo contem. Sou Tudo que me dá plenitude. Sou a vacuidade que tudo compõe. Sou o potencial de tudo que preenche a minha vacuidade.

Sou o nada de tudo. Um nada que não é nada. Como Ser eu componho a minha vacuidade com a minha própria luminosidade. Divina é a energia da natureza. Sou a natureza da energia. Sou a luz que me ilumina. Sou a escuridão que me sustenta enquanto luz.

Sou a força que atrai e repele as partículas da minha luz, a fim de que eu possa existir como matéria. Espaço me preencho a mim mesmo, da minha própria matéria. Então me limito embora ilimitado.

O jogo dos astros e das partículas é a expressão da minha dança cósmica. Masculino sou a força ativa e ofuscante do solo. Feminino sou a força atrativa e receptiva da Lua. E entre os astros sou também a Terra tua mãe.

Terra, divina e a Terra Mãe dos viventes. Sou a Terra dos teus alimentos. A rocha do teu abrigo. A argila que tu moldas. O calcário dos teus ossos. A poeira da tua cova. Sou a montanha que me oferece o repouso do teu vale. Sou a água da seiva, das nuvens, das chuvas, das geleiras, dos rios, dos oceanos, dos teus humores, do teu sangue, das tuas lágrimas. Fogo do Sol eu te banho do meu calor e da minha luz. Sou ar da brisa, do vento, da tempestade, do furacão, do teu primeiro respiro, do teu ultimo suspiro.

Sou o ar da minha própria vida. Sou a flor que como um radar explora o meu Universo e me conta. Sou alegria do voo do pássaro e da borboleta. Sou o tigre que me devora enquanto carneiro. Assim, me conservo enquanto matéria. Sou a semente e a árvore que ainda não existe nela.

Sou a guerra que se transforma em paz. Sou a paz que impede a guerra. Sou excremento que me alimenta quando sou uma Rosa. Rosa o meu perfume me embriaga até o êxtase.

Sou o mesmo mar cujas ondas mudam sem cessar. Sou a onda que esquece que ela é o mar. E quando sou onda, a onda és tu que dança sobre a minha superfície.

Pois tu também és profundamente divino.

Homem, quando eu sou tu eu me esqueço, então tu pensas que tu és tu. O teu corpo que tu pensas Ser, sou eu que me contenho em mim mesmo. Quando tu percebes sou eu que me envolvo sobre o meu próprio estado. A minha inteligência é o teu discernimento. A minha sabedoria é a tua intuição e a tua razão. A minha harmonia é a tua comunhão. O teu amor e a tua compaixão são o cimento da minha unidade. O teu egoísmo é o reflexo obnubilado do amor com o qual eu me amo. A tua raiva é a defesa da minha integridade. A convicção da tua importância é o espelho do meu caráter absoluto.

O teu orgulho é o sentimento difuso da minha importância. O teu instinto de defesa é o reflexo da minha eternidade. A tua instabilidade faz parte da eterna mudança do meu ser imutável.

Quando eu me quero inteiro tornaste totalmente ávido. A minha verdade é o teu silencio. Sou a tua espontaneidade recoberta e bloqueada pelas máscaras dos teus papeis. A tua propriedade sou eu que me possuo a mim mesmo. Sou o meu próprio alimento quando tu pensas que és tu que comes. Sou o prazer que enxuga as tuas lágrimas. Sou o teu sofrimento que te faz apreciar o meu prazer.

Tal qual um gatinho eu brinco com a minha própria calda. A tua alegria é a pulsação do meu êxtase. Sou o coração que bate em uníssono com o mundo. Sou o teu passado, sou o teu presente, sou o teu futuro. Mas, não te enganes. O teu tempo é apenas a minha memória. O teu pensamento sou eu que me contemplo a mim mesmo, mas também estou entre dois pensamento. Sou tu. Sou o espaço que emana os teus pensamentos. A tua inspiração é o meu respiro. Os teus escritos são as minhas ideias. Os teus poemas são os meus suspiros. O teu saber é uma parcela da minha onisciência. A tua força é uma faísca da minha onipotência. O teu Ser é uma expressão da minha onipresença.

Sou homem, sou mulher, sou o amor que ti transforma em minha plenitude. Fazes do teu êxtase a dois meu puro orgasmo cósmico pois, é por te que desfruto da imensa felicidade de ser consciente da minha própria plenitude.

Quer tu estejas sonhando, quer tu estejas dormindo, quer tu estejas acordado eu sou essa luminosa e permanente presença de ti.

Mais tu não sabes mais isto. Tu esquecestes. Tu estás cego. Tu perdestes este paraíso jamais perdido. Tu estás cego pelo desejo de conservar o nosso êxtase eterno que tu pensas ser o teu prazer. E o teu desejo te separa de mim. Pela tua cegueira tu  te expulsas a ti mesmo do nosso paraíso. E tu crias fronteiras que jamais existiu a não ser na tua mente. Eu, Tu. Ser, não Ser. Sujeito, objeto. Espírito, matéria. Eu, Universo, cristão, judeu, muçulmano, hinduísta, budista, taoísta. Tu disputas a prerrogativa de conhecer a minha verdade. Então, vê no medo. Tu tens medo de ti dissolver em mim e de viver a morte de ti. Então, para manter este sonho da existência de ti mesmo, tu te agarras a tudo e a todos. E mais tu te agarras e mais tu tens medo de perder. A tua paranoia te faz procurar bodes expiatórios dos teus males, tal como Eva e a serpente. Filho de Adão e Eva, desde o momento que tu pensas em saber discriminar o bem e o mal o certo do errado tu pensas ser o meu igual. Tu pensas ser o mestre do Universo sem saber que tu sempre o fostes.

Caim desconfiado da minha natureza sábia e pródiga tu ti alienaste a tua cultura. Em ti mesmo e a todo instante tu matas Abel, pastor fiel a minha natureza, sem nenhuma cultura. Então, tu fazes a guerra a minha natureza para conservar este poder que jamais foi separo de ti.

A tua cultura é o tranquilizante do teu medo de descobrir que tu não existes isolado. As máscaras dos teus papeis, o teu teatro, a tua música, o teu cinema, os teus livros, a tua tv, as tuas fronteiras, a tua família, a tua sociedade, os teus amigos, o teu paraíso, as tuas conversas, o teu dinheiro, o teu cigarro, a tua ciência, os teus cardápios, as tuas roupas, a tua moda, os teus palácios, os teus esportes, os teus jogos, o teu carro, as tuas conquistas, os teus aviões, o teu jardim zoológico, reforçam a crença no teu ego. E tu acabas por destruir a ecologia da minha natureza em torno de ti e em ti mesmo.

Tu tens poluído o teu paraíso terrestre até os confins da tua Alma. O espirito da tua ciência não é mais do que uma atrofia do meu espirito em ti. O teu coração ficou cego de tanto acreditar apenas nos teus olhos.

Então, esgotado pelo sofrimento tu me procuras fora de te. Tu me suplicas para te salvar como se estivéssemos separados.

A tua adoração é a superstição desta dualidade. E se o teu semelhante pretende ser Eu, tu o crucificas como se fosse um ladrão. Adorando-me do exterior tu expulsas o divino de ti mesmo. Então, tu te sentes só e abandonado. Em tua revolta tu tentas destruir as barreiras que parecem nos separar.

A tua eterna insatisfação é a sede do meu absoluto. A tua triste nostalgia é este paraíso que tu pensas ter perdido. Mais o teu desespero é o fermento da nossa reunião. A tua prece é o impulso da nossa unidade.

Tu vais a procura de lugares sagrados, Shambala, Jerusalém, a Meca, o Monte Meru, Roma. Tu procuras o Messias, um Salvador, um Guru. Os que ainda sabem sempre estão aí prontos para ti tirar do teu pântano. E todos te dirão a mesma coisa. A Terra prometida e o Messias, Roma e o Cristo. Shambala e o Guru estão em ti mesmo.

Então, procure-os aí. Se tu queres realmente reencontrar este paraíso que tu jamais perdeste, então medita e dance. A meditação será o dissolvente da tua catarata. Medita sobre quem tu és realmente. Se tu me procuras eu não me encontro em lugar nenhum. E no entanto, Tu vais me encontrar em todos os lugares ao mesmo tempo. Nem fora e nem dentro. É em ti que tu podes me encontrar fora e dentro.

No recolhimento de ti mesmo tu retornarás a ser eu. É importante a tua presença em tudo o que se passa. Permanece por trás dos teus pensamentos, das tuas emoções e das tuas sensações. Essa presença sou eu. Essa consciência de tudo sou eu. Vê, tu não és tu. Toma consciência de que jamais fomos separados. O sentido da tua existência transitória é vivenciar isto. Não há outro sentido.

E não me perguntas por quê. Eis  o último porquê. Não há porquê. Porque é assim. E só.

Abandona todas essas vans separações intelectuais da árvore do conhecimento. Entre dois pensamentos discriminativos reencontra a árvore da vida, pois a árvore da vida é a minha natureza de ti. Instrumento dos teus atos positivos e negativos. Os teus pensamentos são o câncer da minha sabedoria nem positiva  e nem negativa. Então, deixa-os passar. Eles se dissolvem sozinhos no mesmo espaço que eles são também.

Dança a harmonia da minha vida a todo instante. Viva a harmonia do meu amor a todo momento. Doa aos outros sem distinção. Então, não seremos mais dois Tu e Eu. E os meus querubins se afastarão para reabrir para ti o caminho do jardim de Éden. E tu reencontrarás a árvore da vida.

Entre viver e vegetar o que tu preferes? Se tu queres viver a minha vida plenamente é preciso morrer para ti mesmo. Será a morte desta longa morte na qual tu vivias e gozavas da tua própria cegueira. Então, a tua própria morte será a doce passagem do sonho esporádico da tua existência transitória à  embriaguez estática da minha eterna mudança.

Mas, se tu não fazes nada para dissolver o véu que nos separa, nenhuma morte te livrará desta decepcionante ilusão. No circulo vicioso do ódio, do apego, da cegueira, do orgulho e do ciúme, tu errarás sem fim. Sob a forma ilusória dos demônios do teu medo eu te provarei até que tu realizes, plenamente, que tu e eu jamais fomos separados.

Pois, o teu demônio sou eu também que te lembra que só tu para te tirar do teu pesadelo. Homem, por ti eu me realizo como luz do mundo. Luz do mundo por você realizo que tu sempre foste eu. Entre a esperança que a luz seja e o desespero da perda da luz que foi, vivemos a eterna luz do espaço entre dois instantes. Viver a todo o instante o nascimento do instante e a morte do instante que passa, eis a verdadeira liberdade.

Eis este mundo de luz que não é mais nem tu e nem eu. Mas luz do mundo, vazia de toda a palavra, cheia de todo o Ser. Plenitude da eterna mudança. Fim sem fim.

Texto publicado no blog do Thame em 16/11/2019 em: http://www.blogdothame.blog.br/v1/2019/11/15/meu-deus-quem-e-voce/#more-96811

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