
Outro dia fui visitar uma amiga que há tempos não via e quando abriu a porta disse ter adorado os meus cabelos curtos exceto os meus cabelos brancos. Sugeriu que eu pintasse e eu de pronto disse a ela que resolvi assumir os meus cinquenta e tantos anos. E eu que já não frequentava salão agora então…
A vida é um convite para experimentarmos o que ela nos oferece e perceber a importância de vivermos cada etapa do nosso processo evolutivo. Reproduzimos nesse processo a história da evolução do Homem. E é muito importante que todas as nossas etapas de vida sejam vivenciadas respeitando-se o tempo de cada Ser, pois ele vai se evidenciar na forma como lidamos com os fatos apresentados em nosso caminhar. Em nossas células está o registro de toda essa memória desde o momento da nossa concepção até o dia da nossa passagem para outra dimensão.
Experimentamos viver como uma ameba, como um peixe, como um réptil, como mamífero e como uma junção de todas as espécies. No caminho da concepção somos desejo de forma pois estamos no caminho da formação. Concebidos vivemos em um aquário mantidos pelo líquido amniótico no conforto do útero materno. E seguindo o fluxo natural, no período de 9 meses escorregamos para a vida aqui fora.
E seguimos nos arrastando como um réptil que deseja explorar, sem nenhum tipo de controle sobre os nossos desejos e sem um sentimento ainda compreensível, vivemos no inconsciente de quem de fato somos.
Quando experimentamos o ser mais primitivo que podemos ser, nos arrastando, nesse momento desenvolvemos o nosso cérebro reptiliano e sendo assim vamos experimentar uma nova etapa de vida engatinhando feito um bicho do mato. Nesse momento, exploramos com mais facilidade a vida e desenvolvemos assim o nosso cérebro límbico ou emocional.
E continuando esse caminho, não sendo apressados pelas antigas andadeiras ou pelas mãos daqueles que muitas vezes desejam ansiosamente nos ver caminhar, tomamos a nossa força interna para a vida, caindo e levantando, aprendendo que assim ela será. Vivendo essa experiência em sua plenitude, desenvolvemos assim o nosso cérebro pensante, o Neocortex.
Evoluindo mais um pouco e acolhendo os nossos processos internos e aceitando-se, vamos desenvolvendo o nosso cérebro pré-frontal que vai nos ajudando na conexão com a espiritualidade.
E é preciso deixar claro que o nosso cérebro não é divido em partes e integra todos esses sistemas. E cada um de nós, de acordo com o seu processo evolutivo vai agir com o cérebro que pode.
E então, você me pergunta: E o que tem isso a ver com o seus cabelos brancos e o seu envelheSer?
É que penso que na medida em que nos permitimos viver e integrar o nosso Ser, respeitando cada uma dessas etapas e a ordem, integrando o nosso bicho que se defende para viver, as nossas dores e alegrias, os nossos anseios e pensamento, o processo de envelhecimento fica mais suave. Pois, se aceitamos que o que foi, foi do jeito que pode ser, nos cobramos menos e deixamos de nos preocupar com o que o outro pensa ou vai deixar de pensar sobre nós. Agindo dentro da nossa inteireza e integridade podemos, cada qual no seu tempo, assumir o nosso envelhecer.
E passa a ser mais importante o quanto você sente-se bem com os seus cabelos brancos do que o incomodo que o outro sente quando você demonstra que o tempo passou. Que a juventude está na sua Alma e não apenas na sua pele. Que pode olhar para o espelho e se reconhecer como você é e não como aquela que gostariam que você fosse.
Porque o tempo passou e vamos envelhecer reverenciando, nos curvando e fazendo novamente o caminho de volta ao Ser.
Artigo publicado no jornal Diário de Ilhéus em 09/03/2018 e republicado em 03/01/2020 e no blog do Thame:
http://www.blogdothame.blog.br/v1/2018/03/10/envelheser/#more-73855
Brava, Eulina! Texto muito interessante! Nos meus 60 e+ assim como sua amiga, reluto em assumir os meus cabelos embranquecendo. E sempre entendi essa relutância como uma dificuldade em aceitar essa etapa da vida. As vezes tento e vou deixando, mas mais adiante volto a tonalizar. Tenho comigo a idéia, que isso vem da existência de situações que nao foram vividas, vivenciadas “no tempo certo”, coisas ainda por fazer, atribuídas a uma certa idade que ficou pra tras- como se não os assumindo grisalhos, guarda-se a ilusão de que ainda há tempo e idade para tal…
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Cada qual no seu tempo querida. Nada de cobranças.bj
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Obrigada por me trazer essa reflexão!
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Que maravilha ler este texto. Ainda mais agora que me aniversário se aproxima e os fios brancos já começaram a surgir…
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Gratidão querida!
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Eulina que bela reflexão.
muito bom mesmo.
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