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Para onde vão as maritacas?

Lembro que em 2014, quando retornei para Ilhéus após quase 10 anos, e passeava pela Catedral durante a tarde, ou de manhã cedo quando ia andando para o trabalho, eu via o revoar das maritacas, e ouvia os seus gritos de alegria saudando o dia. Aquilo me encantava.

Ontem vi cenas de arrepiar e de entristecer. As maritacas buscando abrigo, procurando a sua casa e não encontravam. Uma sensação de desespero horrível.

Vi cenas onde várias delas se agarravam a uma tela de apartamento, ou buscavam o peitoril das varandas. Meu coração disparou diante destas cenas chocantes para todos aqueles que compreendem que somos parte de tudo isto. Somos a natureza e como parte disto, reverbera em nós.

Vejam a situação que estamos vivenciando hoje com um vírus incontrolável.

Tudo isto em prol do desenvolvimento humano? Não desejo este desenvolvimento humano. Aliás, há muito tempo digo que devemos deixar de usar esta palavra, que diz respeito a um desenvolvimento da época da Revolução Industrial, onde as máquinas passaram a dominar o humano. Des é falta, portanto, desenvolvimento para mim é falta de envolvimento humano.

Precisamos acabar com isto e aprendermos a nos envolver cada vez mais.

 Quero envolvimento humano. Quando é que isto pode ser considerado humano? Este é um ato desumano. Ou de uma parte cruel do humano. Que acha que as maritacas podem se virar e procurar outro lugar para viver. Onde estamos?

Isto demonstra o quanto ainda precisamos evoluir enquanto seres humanos.

Agora estamos todos a nos queixar, pois a cidade está presenciando o desespero das maritacas sem poder fazer nada. Tudo isto em prol do desenvolvimento que trouxe para a cidade a primeira ponte estaiada da Bahia. E a Avenida Soares Lopes vai se tornar uma pista de velocidade e as amendoeiras, que são árvores exóticas, local de abrigo das maritacas precisam sair de onde estão para dar visibilidade aos motoristas, além das suas folhas entupirem os boeiros causando alagamentos, isto seria o menos importante agora. São árvores exóticas, justificam. Exótico é este ato.

E a cidade se queixa. E eu me pergunto, quando é que a Sociedade Civil vai aprender sobre a importância de estar presente nos espaços de governança? De estar presente, no mínimo, nas audiências públicas que dizem respeito aos empreendimentos que estão sendo projetados para a cidade? Quando é que estarão na Câmara dos Vereadores para acompanhar os projetos que estão sendo aprovados?

Quando aprendermos a ocupar os nossos espaços, talvez possamos impedir que atrocidades dessas aconteçam em nossas cidades. Quando aprendermos a participar e dizer NÂO, não queremos isto aqui.

Agora convido você a prestar atenção em um grande empreendimento que se deseja implantar em nossa região chamado Porto Sul e Ferrovia Leste Oeste.

Este sim vai gerar impactos irreparáveis e fazer com que as pessoas migrem da cidade de Ilhéus e entornos para outros lugares, pois o minério de ferro chegará em vagões abertos, espelhando pó para a nossa região e para as cidades vizinhas.

Teremos desemprego, e não emprego como as pessoas acreditam que terão e muitos problemas respiratórios.

Prestem atenção! A vocação da nossa região nunca foi minério de ferro para ser exportado para  China. Nossa vocação é para o cacau, o chocolate, o turismo, as frutas, a biodiversidade.

Portanto, convido você a abrir os olhos, aproveitar o ar puro que temos hoje e participar mais do que vem acontecendo ou do que vai acontecer em nossa região. Escutem os gritos das maritacas e sintam o que elas estão anunciando.

Fica o alerta!

Artigo publicado no jornal Diário de Ilhéus em 9/7/2020

Eulina Menezes Lavigne é mãe de três filhos, escritora, poetisa, administradora, empreendedora social, terapeuta clínica, consteladora familiar há 16 anos, trabalha com trauma utilizando a técnica, naturalista e psicobiológica, SE – Experiência Somática.

Para entrar em contato clique no link:

http://bit.ly/WhatsEulina

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