TRATAMENTO DE TRAUMA ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA SOMÁTICA – UM RELATO DE CASO COM TREMORES E REFLUXO GASTROESOFÁGICO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O SE®2 é uma abordagem terapêutica relativamente nova e que vem apresentando resultados muito efetivos. Embora este caso que será apresentado seja fruto de praticamente três sessões, sinto-me instigada a compartilhá-lo para que possamos refletir sobre novas perspectivas e possibilidades sobre a cura do trauma. Os padrões e crenças reducionistas e mecanicistas limitam a compreensão e a forma de lidar com o trauma. Em algum momento da vida a pessoa se depara com ele. Faz parte do viver.

A constituição da forma humana é considerada boa a partir de uma boa postura, decorrente simplesmente de um alinhamento gravitacional adequado, quando, na verdade, da perspectiva do processo somático, a postura ereta é uma onda vertical, pulsátil, emocional, que pode se estender para o mundo e se contrair de volta para si mesma. É a organização da experiência humana decorrente da organização genética da pulsação (Keleman, 1992), e essa organização se estabelece a partir das experiências vividas. Quando experiências traumáticas ocorrem sem que a pessoa tenha estrutura física e emocional para suportar o evento, ocorrem danos ao corpo e ao espírito, alterando a sua forma e desorganizando o sistema nervoso, gerando, segundo Peter Levine (2012), um trauma. Para ele, o trauma ocorre por uma ruptura na camada protetora do organismo, devido à superestimulação do sistema nervoso e à falta de recursos disponíveis nesse momento para modular essa experiência, levando assim a um estado avassalador e de impotência. O trauma é uma ruptura de limite corporal, mental, psicológico e energético. Peter Levine, médico e terapeuta americano, ex-consultor da NASA, PhD em Psicologia e Biofísica Médica, que há mais de quarenta anos se dedica ao estudo do trauma, faz um convite a um novo olhar sobre o tema. Idealizador do método Somatic Experiencing®, abordagem naturalista que tem como eixos norteadores a Etologia, a Neurociência e a consciência corporal, vem inovando no tratamento de clientes com transtornos ansiosos, principalmente transtornos de estresse pós-traumático.

Segundo o seu entendimento, o trauma não é gerado pelo evento em si e sim pela impossibilidade de retomada da autorregulação – que seria natural a um organismo, após um evento estressor. Ele vem do resíduo congelado de energia que não foi descarregada. Deixa-se de considerar um principio milenar, dos curadores orientais e xamânicos, de que cada sistema orgânico do corpo tem também uma representação no tecido da mente. O corpo tem sensações, sentimentos que necessitam ser reconhecidos e vividos. Quando se fragmenta o homem em mente e corpo, se subestima a capacidade intrínseca de comunicação entre ambos. Há uma ilusão de separatividade. A partir do momento em que a mente se desconecta do corpo, se desconecta também da alma, sendo este um dos efeitos mais importantes do trauma. Perde-se, assim, a capacidade de sentir na pele as manifestações físicas que determinados eventos proporcionam e a capacidade de reconhecê-los como um movimento de autocura. A chave para curar os sintomas traumáticos em humanos está em nossa fisiologia (LEVINE, 1999). Só quando é possível descarregar toda a energia mobilizada (descarga significa liberação de energia provocando um relaxamento do sistema nervoso autônomo.) em função de um evento é que se pode negociar a ameaça sofrida e evitar ser uma vítima do trauma. Então ele torna-se uma força impulsionadora para o despertar e a evolução psicológica, social e espiritual.

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2 MÉTODO

Utilizou-se o estudo de caso único, baseado no atendimento de um cliente de sexo masculino, 58 anos, técnico de laboratório. Foram realizadas cinco sessões, sendo que os efeitos tornaram-se visíveis a partir da terceira sessão. Adotou-se pouca fala e muita observação dos sintomas apresentados, além de trabalho de sensopercepção, utilizando a técnica da Experiência Somática. Apesar do cliente ter finalizado seu atendimento, houve um acompanhamento com o objetivo de continuar observando a permanência dos resultados obtidos. Após seis meses do atendimento, em janeiro de 2013, o cliente permanece com o seu sistema autorregulado, com interesse em divulgar o tratamento para demais familiares.

3 ESTUDO DE CASO

Cliente J, 58 anos, técnico de laboratório, é o sétimo de uma família de quinze filhos, sendo três filhos abortados intencionalmente e três adotivos. A mãe faleceu aos 52 anos e vinte dias após o seu falecimento o pai foi a óbito. Filho de família humilde, J durante muitos anos trabalhou diariamente para ajudar no sustento da família, tendo ingressado no mercado de trabalho ainda menino. É casado há mais de trinta anos, pai de dois filhos. Foi encaminhado pela coordenação do projeto por ter sido observado, através dos seus relatos, a necessidade compulsiva de se colocar em perigo, ficar preso a padrões de impotência e por apresentar reencenações frequentes.  Nunca se submeteu a um processo terapêutico e buscou auxílio após acidente com perfuro contaminado durante a coleta de sangue de um cliente. Como se tratava de um evento recorrente no trabalho, foi sugerido que iniciasse um processo terapêutico, estando ele de acordo. Foi observado durante as primeiras sessões que J apresentava tremores em seu rosto e nas mãos, acentuando-se durante os relatos em situações onde surgiam emoções mais intensas.  J relatou que tem refluxo gastroesofágico, tomando regularmente 40 a 80 mg/dia de Pantoprazol e dorme com a cabeceira da cama elevada para reduzir queimação e o desconforto.

O refluxo gastroesofágico (RGE) é caracterizado pelo retorno espontâneo do conteúdo do estômago para o esôfago. Em todos os seres humanos, pequena quantidade de refluxo ocorre no esôfago distal, fato este que não provoca sintoma ou sinal, sendo chamado de refluxo fisiológico. (CORSI, 2002). No entanto quando o refluxo é frequente e a sintomatologia é exacerbada, define-se como doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) acarretando um espectro variável de sintomas e/ou sinais esofagianos e/ou extra-esofagianos, associados ou não a lesões teciduais. (MORAES et al, 2007). Não existem muitos estudos nacionais sobre a epidemiologia da DRGE, entretanto é notória a recente elevação da sua prevalência. (NADER et al, 2007), (OLIVEIRA et al, 2005). A elevada prevalência é atribuída a vários aspectos, entre eles, a elevação da média de idade da população, maus hábitos alimentares, obesidade ou sobrepeso, fatores genéticos, utilização frequente da terapia de reposição hormonal e estresse. (OLIVEIRA et al, 2005),

(MOHAMMED et al, 2005), (NANDUGAR, 2004).

J apresenta uma estrutura de caráter esquizóide, caracterizada pelo distanciamento dos laços afetivos da mãe para com a criança, sentida como uma ameaça real a sua sobrevivência, com um senso de si mesmo reduzido, além de dificuldade de contato com o corpo e o sentimento (LOWEN, 1982). Tem história de trauma de desenvolvimento precoce e trauma de choque associado. Aparentemente, calmo e introspectivo. É uma pessoa reservada, com pouca fala. Demonstra dificuldade em perceber-se e em vincular-se com o olhar. Apresenta piscar do olho acelerado. Diz estar tudo bem como se todos os sintomas de tremor no rosto, nas mãos e movimentos das pernas fossem algo que já fizesse parte natural do seu sistema. O trabalho foi desenvolvido com pouca conversa e muita observação corporal.

Percebe-se uma pessoa dispersa e relata alguns eventos de acidentes físicos. Aos quatro anos, quando morava na roça e brincava com a irmã, teve o seu joelho perfurado por um prego, que ali permaneceu por várias horas sem a sua percepção. O objeto foi retirado pela mãe que cuidou do ferimento. Aos doze anos caiu com uma garrafa de vidro nas mãos levando vários pontos. Aos quarenta anos acidentou-se com um martelo fraturando o dedo mínimo, perdendo sua mobilidade. Durante o exercício da sua profissão atual submeteu-se a vários eventos de acidentes perfuro-cortantes, e em sua profissão paralela, de construtor de barcos, quase expôs a mão em máquina para corte de madeira. Além disso, presenciou por diversas vezes, o irmão mais velho sendo maltratado pela mãe.

Trabalhou-se durante as sessões com a sensopercepção para que, através das sensações corporais, ele expressasse o que ele sentia no seu corpo.

Em suas duas primeiras sessões expressava não sentir nada, o que pode vir a ser uma resposta característica da dinâmica de subacoplamento, imobilidade, com predominância do sistema parassimpático vagal dorsal associada à sua resposta de defesa referente a trauma de desenvolvimento. Através de um processo educativo, foi ajudado a desenvolver a autopercepção, sendo encorajado, lenta e gradativamente, a restaurar os impulsos defensivos e de orientação. Com o tempo, foi identificando um nó na garganta, com incômodo na base do esôfago até a laringe e lacrimação. Foi estimulado a perceber estes sintomas, e utilizando-se a técnica da pendulação e titulação, foi possível ajudar o cliente a lidar com as sensações difíceis, a encontrar um lugar no próprio corpo com uma sensação “oposta”, de menos incômodo, de mais relaxamento, e assim, paulatinamente, pôde experienciá-lo com mais segurança. Posteriormente, outros sintomas foram aparecendo, principalmente tremores na face esquerda, nas mãos e pernas, sendo trabalhada a possibilidade de percebê-los, acolhê-los ou apenas observar o que ia acontecendo, até que o cliente pôde experimentar uma sensação de relaxamento e tranquilidade, além da possibilidade de sustentar esta sensação.

Através da observação da postura corporal de pender a parte superior para o lado direito e inferior para o lado esquerdo, ao levar a atenção para este movimento, deu o significado de que estaria se afastando de algo. Relatou que há algum tempo percebeu-se pendente para o lado direito, principalmente quando está dirigindo o carro. Contou que sofreu um assalto à mão armada, há 30 anos, por dois homens, um do lado esquerdo e o outro do lado direito. O cliente relatou que estava do lado da rua onde haviam muitas pessoas e que não compreendia o que o fez atravessar a rua e ir em direção aos dois assaltantes. Lembra-se também que os tremores nas mãos se iniciaram após este evento. Neste momento, foi utilizado na sessão a técnica da imaginação ativa, solicitando-se que J entrasse em contato com o momento que vivenciou bem antes do assalto, quando estava com amigos se divertindo, e que percebesse as sensações no corpo. Ao dirigir a sua atenção para as boas sensações corporais internas, foi liberando as energias até então represadas, sem ser tomado novamente pela experiência traumática, o que o possibilitou entrar em contato com o ambiente e restabelecer a capacidade de interação social.

O cliente ficou quinze dias sem comparecer à sessão e relatou que ficou surpreso com o fato de ter deixado de tomar medicamento para o refluxo sem retorno dos seus sintomas e não estar mais tomando medicamento para o refluxo. Houve uma diminuição dos tremores nas mãos, tensão nas pernas e apresentou-se com uma postura mais ereta. Relatou também que, durante o seu plantão no hospital, já não tem necessidade de elevar o encosto da cama e que precisa reformular sua cama em sua residência.

Na terceira sessão o cliente trouxe uma queixa de repuxão de um nervo na perna direita e ainda pequenos tremores nas mãos. O encorajamento cauteloso para observar os sintomas apresentados e perceber as reações corporais provocou, inicialmente, um aumento dos sintomas e, à medida que esta resposta de defesa foi suprimida, a fisiologia do cliente pôde eliminá-la, causando uma sensação de relaxamento. Este procedimento permaneceu durante a quarta e a quinta sessão, quando se percebeu que o seu sistema pôde, finalmente, estabelecer um estado de homeostase.

4 DISCUSSÃO

A alma se manifesta através do corpo, gerando a vida através de formas, que, por sua vez, se moldam pelas circunstâncias da vida. Essas formas são parte de um processo de organização que dá corpo às emoções, pensamentos e experiências, fornecendo-lhe uma estrutura. A alma pulsa. A jornada da vida se inicia com uma explosão de células que se organizam e dão forma ao feto, que se transforma em uma criança, a qual se molda em um adulto. Este diálogo que se estabelece com as formas, primeiramente o útero, em seguida a mãe, e, por sequência, diversas relações, é que contribui para a formação dos extratos das formas emocionais, cheio de passagens e labirintos que contêm fluidos eletrificados. O movimento de pulsação, através do corpo, atua como uma membrana móvel que se expande e se contrai e cria uma parede externa, uma interna e outra intermediária entre os dois mundos (Keleman, 1992). A camada externa, chamada de ectomórfica, é quem informa, protege e estabelece um limite entre os mundos internos e externos, e está intimamente vinculada ao sistema nervoso central neural. A camada intermediária, chamada de mesomórfica, é formada pelos músculos, ossos, cartilagens e tendões, responsáveis pela estrutura muscular de sustentação. A camada interna, a mais profunda, é formada pela parede interna do corpo, as cavidades e o sistema orgânico de digestão, assimilação e respiração. Essas camadas são ligadas por uma camada mais profunda formada pelos hormônios que geram e regulam o crescimento, reprodução, geração de informações, sentimentos e substâncias. Cada uma dessas camadas expressa o seu pensamento de forma diferenciada. A camada neural pensa através da luz, contato de superfície, imagens e movimento; a camada muscular através da elasticidade, pressão, compressão e ritmo; a camada interna através da fluidez. À medida que estas formas vão se constituindo, sentimentos são gerados e criam uma programação na forma de pensar, sentir e agir no mundo. Essas camadas se articulam e vibram conforme as experiências vividas tal qual uma dança.

Pressupõe-se que o cliente J vivenciou eventos de estresse em fase muito precoce do seu desenvolvimento, possivelmente desde a sua concepção até uns três meses, referenciado por Lowen (1982) como estrutura esquizóide, quando há uma movimento de afastamento da vida e uma necessidade de existir. Quando a mãe vivencia situações de estresse durante a gravidez, estas são vivenciadas pelo feto como ameaça de vida. A experiência vivenciada no ambiente do útero é de não ser querido, de que o mundo não é um lugar receptivo à sua chegada e, portanto, inseguro. Como consequência, a criança se sentirá insegura na sua existência, desconfiada da realidade como um lugar de instabilidade. A criança então, evita contato com o mundo, não querendo participar dele como é. Sente-se insegura com elevada carga emocional, vivacidade e com contato interpessoal. Há uma “fuga do corpo”, uma vez que se sente aterrorizada por ameaça massiva de aniquilação. Estar no corpo lhe traz um profundo medo de fragmentar-se. A tendência é que pessoas com esta estrutura contenham as suas sensações, tentando inibir os processos involuntários (SELVAM e PARKER, 2000)

A história de vida de J retrata a experiência de uma criança que faz parte de uma família numerosa, que presencia e se envolve com quantidades excessivas de agressões de fontes externas e cuja mãe e a família não podem ancorá-la com cuidados, para que possa elaborar as suas dores e desafios da vida. Com isto, sofre danos em seu desenvolvimento físico e emocional. Estas agressões podem surgir, ao longo da vida, como próprios estados internos, de sentimentos, de medo de ser abandonado, dependência etc. Quanto maior a quantidade de eventos traumáticos e agressivos, maiores são as perturbações para o organismo. Tendo conhecimento da experiência de J, buscou-se, durante o processo de atendimento, sempre educá-lo no sentido de encorajá-lo, com paciência e cuidado, a ir percebendo os sintomas apresentados no corpo, oferecendo apoio e amparando-o na exploração inicial, e a aceitar as sensações eminentes, principalmente quando o cliente afirmava não estar sentindo nada.

Levine (2012) alerta que, quando qualquer organismo percebe um perigo mortal impactante (com possibilidade de fuga reduzida ou inexistente), a reação biológica é de paralisia e dissociação. Como estar no corpo era uma situação bastante ameaçadora e devastadora para J, foi importante a cautela. Estudiosos do comportamento animal chamam isto de imobilidade tônica (LEVINE, 2012). Esta incapacidade de lidar com situações devastadoras e a falta de habilidade para permitir que o corpo experimente reações fisiológicas naturais, como tremores, choros, espasmos, dentre outras, é que permite que um trauma se instale em um sistema, tornando-o hipervigilante. O reflexo desta situação devastadora envolve uma série de posturas que alteram as ondas tubárias de pulsação, congelando-as, acelerando-as na agitação ou reduzindo-as no espessamento ou no colapso. A postura ereta é abalada e o corpo já não está tão pulsátil. Quando há alteração nas ondas musculares pulsáteis básicas, as pessoas manipulam suas emoções ou desenvolvem padrões de estresse físico (Keleman, 1995). Camadas e diafragmas, líquidos e tubos são afetados (Keleman, 1992).

As experiências vivenciadas por este cliente, ao longo da sua vida e durante um assalto à mão armada por dois homens, e a impossibilidade de reagir a estes eventos, provavelmente provocaram-lhe um medo avassalador. A cada evento, o seu sistema foi se inundando de endorfinas, que compõem o sistema de alívio da dor produzido pelo próprio corpo, tornando os eventos menos dolorosos. Desta forma, embora testemunhasse os acontecimentos fora do corpo como se o fato estivesse acontecendo com outra pessoa (LEVINE, 2012), todos os tecidos, músculos, órgãos e células do corpo, assim como os pensamentos e sentimentos, foram desorganizados. Tudo isto contribuiu para a formação da estrutura de caráter esquizoide, representada, em nível corporal, pela falta de conexão somática entre a cabeça e o resto do corpo, percebendo-se uma forte tendência à dissociação, reforçada pelas experiências traumáticas vivenciadas, contribuindo também para o surgimento do refluxo gastroesofágico, em função do grande stress vivenciado.

Diante desta dissociação, os sintomas pós-traumáticos se apresentaram como respostas fisiológicas incompletas suspensas no medo. Não podemos afirmar com precisão, em função de ser este apenas um estudo de caso, que o desaparecimento dos sintomas foi em decorrência da prática do SE, e pode ser provável que as constantes ameaças sofridas pelo cliente J, tenham interferido na integridade do seu sistema de suporte, gerando uma posição de estresse permanente, o que enfraqueceu a musculatura do diafragma e desencadeou em refluxo gastroesofágico e em tremores constantes. Penso ser importante considerar os estudos de Stanley Keleman (1992) que diz que o reflexo de um susto envolve: mudança na musculatura e na postura, mudança no formato do diafragma, aumento ou redução na espessura das paredes corporais, distanciamento entre as bolsas, mudança na relação do corpo com a linha gravitacional da terra, alteração de sentimentos, emoções e pensamentos. Como o trabalho foi desenvolvido no sentido de ajudar o cliente a se conectar com o corpo, confiar na sua capacidade de autorregulação, percebendo os sentimentos desconfortáveis de forma equilibrada e as suas sensações físicas como um processo natural de descarga do sistema nervoso (descarga significa liberação de energia provocando um relaxamento do sistema nervoso autônomo.), levanto a hipótese de que a sua estrutura corporal foi se aquietando. Este lugar de mais organização foi fortalecido através do rastreamento das sensações com cautela, trabalho com imagens reconfortantes como recurso e o desenvolvimento da paciência, por meio da observação constante dos sintomas.

5 CONCLUSÃO

Esta experiência foi extremamente gratificante e surpreendente para as partes envolvidas, considerando as poucas sessões realizadas e os resultados alcançados. Percebe-se que a Experiência Somática® é um a abordagem terapêutica que não requer anos de terapia psicológica nem que as lembranças sejam reiteradamente evocadas e expurgadas do inconsciente.

Na medida em que trabalhamos com a sensopercepção, ou seja, a percepção consciente, na qual o cliente J ia experienciando o que estava presente, sem tentar alterá-lo ou interpretá-lo, o seu sistema nervoso foi tendo a capacidade de melhor se autorregular. Durante 5 horas (5 sessões), o seu sistema, provavelmente, pôde ir integrando, de uma forma mais estável, estas sensações até a sua estrutura física e emocional se organizar por completo, bem como a sua pulsação vital. A cura do trauma é um processo natural que pode ser acessado pela consciência interna do corpo. A busca infindável das chamadas “memórias traumáticas” pode interferir com a sabedoria inata dos organismos para curar-se (LEVINE, 1999). Como foram feitas poucas sessões com o cliente J, e como afirmamos anteriormente, tratar-se apenas de um estudo de caso, seria interessante aprofundarmos o assunto sobre a hipótese de que o excesso de experiências traumáticas gerou alterações em suas estruturas tubulares e a prática do SE colaborou para o desaparecimento dos sintomas. Podemos afirmar, no entanto, que reconectar a mente, o corpo e a alma através da sensopercepção é autorizar o corpo a sair da “imobilidade” ou do estado de “congelamento” e estimular o sistema para retornar a um estado de equilíbrio dinâmico.

REFERÊNCIAS

 

CORSI, Paulo R. et al . Presença de refluxo em pacientes com sintomas típicos de doença do refluxo gastroesofágico. Rev. Assoc. Med. Bras. v.53 n.2 São Paulo, mar./abr. 2007.

KELEMAN, Stanley. Anatomia Emocional: a estrutura da experiência. São Paulo: Summus, 1992.

_____. Corporificando a Experiência: construindo uma vida pessoal. São Paulo: Summus, 1995.

LEVINE, Peter A. Uma voz sem palavras: como o corpo libera o trauma e restaura o bem estar. São Paulo: Summus, 2012.

LEVINE, Peter A.; Frederick, Ann. O despertar do Tigre: curando o trauma. 3. ed. São Paulo: Summus, 1999.

LOWEN, Alexander. Bioenergética. 11. ed. São Paulo: Summus, 1982.

Manual da Formação em Somatic Experiencing® da Foundation for Human Enrichment. Colorado: Foundation for Human Enrichment, 2007.

MORAES, JP Filho, et al. Brazilian consensus on gastroesophageal reflux disease: proposals for assessment, classification and management. Am J Gastroenterol 2002;97:241-8.

NADER,F., et al.  Prevalência de pirose em Pelotas, (RS), Brasil: estudo de base populacional. Arq Gastroenterol 2003;40:31-4

NANDURKAR ,S., et al.  Relationship between body mass index, diet, exercise and gastro-oesophageal reflux symptoms in a community. Aliment Pharmacol Ther 2004;20:497-505.

OLIVEIRA, S., et al. Prevalência e fatores associados à doença do refluxo gastroesofágico. Arq Gastroenterol, 2005;42:116-21.

SELVAM, Raja; PARKER, Lori A. Trabalhando ao redor das defesas de desenvolvimento em sessões de SE. [S.l.: s.n.], 2000. (Seminário).

[1]  Terapeuta Transpessoal, administradora (UNIFACS), pós-graduada em Marketing (UNIFACS), formação em Constelação Familiar (Hellinger-Institut Landshut – Alemanha),  especialização em Psicotraumatologia Junguiana com SE®   (Instituto Junguiano da Bahia),  formação em SE®; voluntária do Projeto Mãe da     Providência e do Serviço de Práticas Integrativas do Hospital das Clínicas. E-mail: eulina.m.lavigne@gmail.com

2 SE®, Somatic Experiencing® ou Experiência Somática – abordagem terapêutica desenvolvida pelo Dr. Peter Levine e utilizada em      transtornos relacionados a eventos traumáticos.

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